quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sobre preconceito e as incoerências da vida

Esse caso da jovem torcedora do Grêmio que foi flagrada pelas câmeras gritando “macaco” para o goleiro do Santos já deu o que tinha que dar. Não foi bonito o que ela fez ou disse. Foi um caso de racismo sim e deve ser punido. Mas a repercussão dada ao caso foi e está sendo exagerada.  

Esse sensacionalismo todo em torno do assunto é no mínimo irresponsável. Só o fato de ter sido flagrada em rede nacional já foi vergonha suficiente para ela. Ainda assim ela perdeu o emprego, teve a casa apedrejada e está sob proteção da polícia porque corre o risco de ser linchada ao colocar o nariz na rua. A vida dessa guria nunca mais vai ser a mesma. Ela com certeza já se deu conta da cagada que fez e com mais certeza ainda nunca mais vai chamar negro de macaco, gay de veado e por aí vai.

Milhares de pessoas estavam no estádio naquele dia. Milhares de pessoas entoaram cantos preconceituosos em uma só voz, muitas vezes sem nem se dar conta do que estavam falando. As crianças aprendem os “hinos” da torcida desde pequenas e não tem noção do que significam muitas das palavras que aprendem a falar. Quem já foi assistir partidas no estádio sabe que isso acontece. Não justifica, mas... Que atire a primeira pedra quem nunca errou.

Tantas coisas acontecem nos estádios e passam em branco que é no mínimo exagero o que estão fazendo nesse caso. Quantas mortes durante brigas de torcedores nos estádios brasileiros já assistimos pela televisão? Quantas vezes a violência foi tema dos principais noticiários de esportes? O que foi feito nesses casos? Qual foi a repercussão dada? Não me lembro de ter visto tanto alarde nem da mídia nem da justiça.

E não estou minimizando o crime de racismo que a guria cometeu. A única coisa é que me parece incoerente que ela, uma guria que não agrediu fisicamente ninguém, que não atirou pedra em ninguém, que não acertou nenhuma cabeça com barras de ferro, que não matou, que não representa risco para a sociedade, pague por um crime com tamanha severidade e seja reprimida de maneira tão estúpida pela sociedade enquanto outros torcedores criminosos muito mais perigosos, que já mataram, machucaram e deixaram outras pessoas inconscientes ficaram livres e passaram ilesos pelos julgamentos (quando foram julgados).

Sim, alguém tem que dar o exemplo, eu entendo. Acho lindo que o Rio Grande do Sul resolva fazer isso. Mas vamos combinar, isso dificilmente vai resolver o problema.  Prender a garota não vai resolver. Os casos de racismo dentro e fora dos estádios vão continuar existindo, sabe porque? Porque isso é um problema de educação básica, aquela que se aprende em casa. É muito maior do que isso.

Quando os pais olham um negro, um gay, um mendigo, um drogado, um cachorro vira lata e fazem comentários, viram o rosto ou exercitam aquela cara de nojo guardada para as piores coisas existentes no mundo, a criança entende que aquilo ali (seja o que for) não merece um pingo de respeito, amor, caridade, dó ou gentileza. Tá feita a merda. Daí pra frente, é só incitar um pouquinho e pronto - um passo para a violência.  


Se você quer realmente ajudar a acabar com o preconceito no mundo, comece mudando o seu comportamento. Olhe pra dentro de si mesmo e veja quantas vezes você teve reações preconceituosas com relação a seja lá o que for. Depois que você mudar isso, depois que fizer a sua parte passando isso pros seus filhos, aí sim poderemos discutir casos como esse sem ser ofuscados pelo sensacionalismo das pessoas, da mídia e da justiça. Antes disso, somos todos iguais. Não apedreje o teto do outro porque o seu também é de vidro. 

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