quarta-feira, 5 de abril de 2017

Uma folha em branco para desacelerar


Uma folha em branco é quase como um recomeço. Uma oportunidade pra fazer tudo de novo, reescrever corrigindo os erros, melhorando, buscando sinônimos para palavras repetidas...

Eu gostava mais daquele tempo quando as palavras eram riscadas e rabiscadas, às vezes apagadas pela borracha que deixava suas marcas no papel, denunciando a sua tentativa de passar despercebida.

Sempre gostei de escrever à mão e à caneta, que é pra não ter chance de apagar um texto pelo simples fato de ter medo do que os outros vão pensar ou por achar que aquilo está muito piegas, muito sentimental, muito bobo.

Sou do tempo em que a gente escrevia muito. Tive diário, vários deles, muitos mesmo... Até hoje estão guardados cuidando das palavras que escrevi, muitas vezes contando problemas adolescentes, infantis até... Escrevia cartas para os familiares que moravam em outra cidade, contava as coisas que aconteciam comigo e adorava a expectativa, algumas vezes frustradas, de receber a resposta, abrir aquele envelope cheirando à cola, com selo e tudo. Ai, ai...

Por mais que a gente tente não se render à praticidade da tecnologia, é quase impossível resistir. Ela veio pra ficar, pra ajudar a tornar tudo mais rápido, mais instantâneo. Mas isso traz também a contrapartida, as coisas ficam mais efêmeras, passageiras, sem importância.

Lembra do tempo das fotografias de filme, quando precisávamos esperar até ver o resultado dos cliques? Depois de esperar tanto tempo, a gente nem se importava com fotografias meio fora de foco, tremidas, com uma pose ruim ou uma careta imperfeita. Hoje, é só celular, mil selfies na mesma pose até achar aquela fotografia perfeita que vai retratar um momento inesquecível que você não está vivendo porque encontra-se muito ocupado tirando fotos.


Eu, como boa fã do papel e da caneta, continuo escrevendo e reescrevendo as coisas. Começando e recomeçando a cada folha em branco que me aparece no caminho. Me pego pensando para onde estamos indo com essa pressa toda, onde vamos chegar... Será que não é bom reservar um pouquinho do nosso tempo pra desacelerar?