segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Bobi, Bito, Brito, Bobito

Mãe, eu não gosto de tirar foto. Me deixa aqui no meu cantinho.
Cheguei em casa hoje e tu não estava ali, deitado no sofá esperando por mim. Lembrei. Chorei. Doeu.

O tempo que tivemos juntos foi bom, mas me parece que foi tão curto.

Ontem mesmo eu te peguei no colo como uma bolinha cheia de pelos. Logo em seguida tu cresceu e me acompanhou em muitos passeios e viagens.

Ficou doente algumas vezes e em todas elas eu estava ali, cuidando de ti, te dando o meu melhor carinho. Quando foi a minha vez de sofrer e chorar tu, mesmo sem poder fazer muito, ficou ali, do meu lado, angustiado e choramingando junto comigo. Pedindo carinho como se soubesse que uma gracinha tua já ia ser suficiente pra acalmar meu coração. E foi.

Close no focinho preto.
Um dia, cheguei em casa e tu não tava lá. Te deram para outra pessoa que eu nem sabia quem era. Quis o destino que eu te encontrasse no mesmo dia na rua, passeando com o novo dono. Eu chorei de um lado e tu do outro. No fim do dia tu já estava em casa de novo, junto comigo.

Minha única companhia quando chegava em casa tarde da faculdade. Tu acordava com aquela cara amassada e os pelos marcados só pra ficar do meu lado enquanto eu jantava, tomava banho e ia dormir. Aliás, dormir era tua atividade favorita... Dormir com qualquer uma de nós, com a cabeça bem apoiada na dobra das pernas.

Tu sempre aguentou as brincadeiras que fizemos contigo. Sempre foi paciente e quando a coisa ficava demais ia se esconder de nós no teu cantinho.

No Natal eu virei Papai Noel!
Mais um tempinho passou e rapidamente a tua energia de infância deu espaço a um velhote rabugento, cheio de manias e manhas. Mas o teu jeito delicado de subir na cama não mudou. Era raro perceber de tão leve que era teu pulo.

Pulos e pulos depois os sinais da tua idade foram aparecendo cada vez mais. Aos poucos os pulos foram ficando mais raros, a palavra passear já não te fazia mais ficar de orelhas em pé e as dores nas costas que insistiam em aparecer te incomodavam.

Minha mãe parece a Felícia. Socorro!!
No início desse ano nos separamos, fui morar na minha casa e achei que seria melhor para um senhor da tua idade ficar onde sempre esteve. Achei que uma mudança dessas não te faria bem. Hoje, carrego um pouco dessa culpa egoísta no meu coração. Queria ter passado mais tempo contigo, dando pra ti o meu melhor carinho e recebendo de ti o amor mais puro do mundo.

Nessa última semana te trouxe comigo. Vi de perto teu sofrimento e sofri junto contigo. Cuidei de ti mais uma vez, a última vez. Não quis acreditar que não tinha mais jeito. Fui até onde deu. Nos últimos dias, parece que eu conseguia ver lágrimas nos teus olhinhos castanhos. Resisti o quanto pude, mas não conseguia mais te ver sofrendo, sem caminhar, sem conseguir ser o cachorrinho sapeca e sem vergonha que tu sempre foi, aquele que dava pulos altos e corria atrás dos gatos e da bolinha com uma energia incrível. Desculpa.

Hoje o dia acordou chuvoso e cinza, assim como o meu coração. É doloroso andar por aqui e não ouvir o barulho das tuas patinhas pelo chão ou os teus choramingos pedindo um pouco de atenção. É péssimo olhar para os lugares onde tu deitava e perceber que tu não está mais por aqui. Dá um aperto no peito...

Para a eternidade...
Digo hoje sem medo de cometer exageros que essa foi a decisão mais dolorosa e difícil que já tomei na vida. Se foi a certa eu não sei. Dizem que foi.

A única certeza que eu tenho é que tu foi um grande amigo e companheiro de quatro patas e que me ensinou muitas coisas nesses 15 anos, mesmo sem uma palavra.

Lamento e vou lamentar sempre não ter passado mais tempo contigo, não ter te dado mais atenção e carinho.

Obrigada meu amigo. Vai com Deus e fica cuidando de nós de onde quer que tu estejas.

Ah... E se der, aparece em um dos meus sonhos qualquer noite dessas pra gente brincar de novo.