quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pessoas invisíveis

Detesto admitir meus erros, mas dizem que esse é um dos caminhos para acertar, então...

Muitas vezes eu não vejo as pessoas invisíveis... Essa frase pode parecer ridícula num primeiro momento, mas vou tentar explicar.

Pra começar, vamos definir quem são as pessoas invisíveis. São aquelas que andam maltrapilhas pelas ruas da cidade, muitas vezes sem rumo, pedindo dinheiro, comida ou o que quer que a sua caridade possa dar. São pessoas que não tiveram oportunidades ou que as tiveram mas não conseguiram aproveitar da melhor maneira. Aos poucos, elas vestem o manto da invisibilidade. A sociedade passa a (fingir) não enxergá-las.

Me deparei com esse assunto dias atrás, quando estacionamos o carro em frente ao prédio que moro e percebemos à frente um homem, já conhecido nas redondezas por ficar vagando dia e noite, atirado no chão. Mais atrás vinha um grupo com dois casais que deviam ter entre 50 e 60 anos. Quando as duas mulheres avistaram o homem atirado no caminho, atravessaram na mesma hora. Nos olhos elas carregavam desprezo e medo.

Descemos do carro e não mudamos o nosso trajeto por causa do homem. Lucas, que sempre conversa com ele e dá algumas moedas embora eu sempre diga que ele vai gastar tudo em drogas e bebidas, parou e perguntou o que tinha acontecido ao homem estirado no chão. Quando vi os olhos dele, completamente vidrados, e ouvi ele dizer que aquilo estava machucando ele, senti um misto de pena, tristeza, impotência e uma vontade louca de chorar e abraçar aquele homem.

Mas o sentimento que mais doeu em mim e sou obrigada a reconhecer isso, foi a vergonha. Quantas vezes eu tive medo dele? Quantas vezes eu passei por uma pessoa em situação semelhante e fingi que não via? Quantas vezes eu ignorei o mendigo que pede esmola no sinal? Quantas vezes o medo, o nojo, o desprezo e a pena estavam nos meus olhos? Quantas vezes pensei em ajudar e não fiz isso? Quantas vezes eu podia ter estendido a mão e não o fiz?

Eu sei que a violência existe e não é pouca. Mas será que se a gente parar para ajudar, dar a mão, uma palavra que seja, essa pessoa não vai se dar conta que não somos indiferentes? Será?


O homem levantou com as moedas de Lucas nas mãos e saiu caminhando. 

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