sexta-feira, 28 de maio de 2010

Reencontro

Foi ali, naquele início de noite, banhados pelo pôr do sol, que tudo voltou a ser como antes. Eles se encontraram por acaso na rua, sentiram o mesmo frio na barriga de antigamente e combinaram de ver aquele velho pôr do sol que tanto os acompanhara em outras épocas.

Estavam felizes, falaram sobre as reviravoltas da vida, sobre as coisas que aconteceram com cada um desde aquele tempo, sobre filhos, casamentos, os antigos amigos. Aos poucos foram tocando nas feridas, algumas bem cicatrizadas, outras nem tanto e uma ou outra que nem o tempo foi capaz de curar.

Apesar das mágoas, conseguiram conversar como adultos, afinal, tanto tempo já se passara desde a última vez. Nenhum dos dois conseguia explicar o que estava sentindo. Um misto de alegria, saudade, paixão, amor, tristeza, mágoa e melancolia.

Lembraram dos velhos tempos, de quando eram próximos, tão unidos que diziam ser almas gêmeas. Riram de situações que enfrentaram juntos, dos sonhos que tiveram e realizaram, choraram ao lembrar as perdas que, igualmente juntos, superaram e lamentaram profundamente o fim de tudo há anos atrás.

Depois da conversa nostálgica o silêncio. O mesmo silêncio que há anos atrás incomodava tanto e era motivo de brigas, agora já não tinha tanta importância. Estavam quietos sim, mas estavam juntos. Mais juntos do que nunca. Sabiam disso.

Ficaram ali, sentados no muro que divide a rua e a praia, observando o sol se pôr lentamente, como dois adolescentes. O mesmo pôr do sol onde ele a pedira em namoro e, tempos depois, em casamento.

Queriam que o tempo parasse naquele momento. Depois de muitos anos separados, estavam agora frente a frente novamente. Não sabiam o que dizer um ao outro, não sabiam mais como lidar um com o outro, tinham medo. Medo das mudanças do tempo, medo das reações agora imprevisíveis, medo do sim e do não, medo do talvez.

Nada foi dito. A simples troca de olhares foi suficiente para que percebessem que tudo continuava como antes, a sintonia, o bom-humor, a paixão, as implicâncias, as manias, o mau-humor, os mesmos apelidos de sempre, a mesma roupa suja no chão do banheiro que ela tanto reclamava, a mesma demora no banho que ele detestava, o mesmo café na cama todo domingo que fazia com que ela se esquecesse das brigas, a mesma massagem relaxante que só ela sabia fazer nele... Tudo continuava igual, perfeito.

Com o cair da noite, a distância física entre os dois diminuiu. Estavam agora sentados lado a lado, ela com a perna apoiada na perna dele, ele com os braços em volta dela. Juraram à lua que nunca mais ficariam longe um do outro. Viveriam seus últimos dias como se fossem os primeiros, felizes, sonhando, amando, juntos...

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