Esse caso da
jovem torcedora do Grêmio que foi flagrada pelas câmeras gritando “macaco” para
o goleiro do Santos já deu o que tinha que dar. Não foi bonito o que ela fez ou
disse. Foi um caso de racismo sim e deve ser punido. Mas a repercussão dada ao
caso foi e está sendo exagerada.
Esse
sensacionalismo todo em torno do assunto é no mínimo irresponsável. Só o fato
de ter sido flagrada em rede nacional já foi vergonha suficiente para ela.
Ainda assim ela perdeu o emprego, teve a casa apedrejada e está sob proteção da
polícia porque corre o risco de ser linchada ao colocar o nariz na rua. A vida
dessa guria nunca mais vai ser a mesma. Ela com certeza já se deu conta da
cagada que fez e com mais certeza ainda nunca mais vai chamar negro de macaco, gay
de veado e por aí vai.
Milhares de
pessoas estavam no estádio naquele dia. Milhares de pessoas entoaram cantos
preconceituosos em uma só voz, muitas vezes sem nem se dar conta do que estavam
falando. As crianças aprendem os “hinos” da torcida desde pequenas e não tem
noção do que significam muitas das palavras que aprendem a falar. Quem já foi
assistir partidas no estádio sabe que isso acontece. Não justifica, mas... Que
atire a primeira pedra quem nunca errou.
Tantas coisas
acontecem nos estádios e passam em branco que é no mínimo exagero o que estão
fazendo nesse caso. Quantas mortes durante brigas de torcedores nos estádios
brasileiros já assistimos pela televisão? Quantas vezes a violência foi tema
dos principais noticiários de esportes? O que foi feito nesses casos? Qual foi
a repercussão dada? Não me lembro de ter visto tanto alarde nem da mídia nem da
justiça.
E não estou
minimizando o crime de racismo que a guria cometeu. A única coisa é que me
parece incoerente que ela, uma guria que não agrediu fisicamente ninguém, que
não atirou pedra em ninguém, que não acertou nenhuma cabeça com barras de
ferro, que não matou, que não representa risco para a sociedade, pague por um
crime com tamanha severidade e seja reprimida de maneira tão estúpida pela
sociedade enquanto outros torcedores criminosos muito mais perigosos, que já
mataram, machucaram e deixaram outras pessoas inconscientes ficaram livres e
passaram ilesos pelos julgamentos (quando foram julgados).
Sim, alguém
tem que dar o exemplo, eu entendo. Acho lindo que o Rio Grande do Sul resolva
fazer isso. Mas vamos combinar, isso dificilmente vai resolver o problema. Prender a garota não vai resolver. Os casos de
racismo dentro e fora dos estádios vão continuar existindo, sabe porque? Porque
isso é um problema de educação básica, aquela que se aprende em casa. É muito
maior do que isso.
Quando os
pais olham um negro, um gay, um mendigo, um drogado, um cachorro vira lata e
fazem comentários, viram o rosto ou exercitam aquela cara de nojo guardada para
as piores coisas existentes no mundo, a criança entende que aquilo ali (seja o
que for) não merece um pingo de respeito, amor, caridade, dó ou gentileza. Tá
feita a merda. Daí pra frente, é só incitar um pouquinho e pronto - um passo
para a violência.
Se você quer
realmente ajudar a acabar com o preconceito no mundo, comece mudando o seu
comportamento. Olhe pra dentro de si mesmo e veja quantas vezes você teve
reações preconceituosas com relação a seja lá o que for. Depois que você mudar
isso, depois que fizer a sua parte passando isso pros seus filhos, aí sim poderemos
discutir casos como esse sem ser ofuscados pelo sensacionalismo das pessoas, da
mídia e da justiça. Antes disso, somos todos iguais. Não apedreje o teto do
outro porque o seu também é de vidro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário