Mãe, eu não gosto de tirar foto. Me deixa aqui no meu cantinho. |
Cheguei em casa hoje e tu não estava ali, deitado no sofá
esperando por mim. Lembrei. Chorei. Doeu.
O tempo que tivemos juntos foi bom, mas me parece que foi
tão curto.
Ontem mesmo eu te peguei no colo como uma bolinha cheia de
pelos. Logo em seguida tu cresceu e me acompanhou em muitos passeios e viagens.
Ficou doente algumas vezes e em todas elas eu estava ali,
cuidando de ti, te dando o meu melhor carinho. Quando foi a minha vez de sofrer
e chorar tu, mesmo sem poder fazer muito, ficou ali, do meu lado, angustiado e
choramingando junto comigo. Pedindo carinho como se soubesse que uma gracinha
tua já ia ser suficiente pra acalmar meu coração. E foi.
Um dia, cheguei em casa e tu não tava lá. Te deram para
outra pessoa que eu nem sabia quem era. Quis o destino que eu te encontrasse no
mesmo dia na rua, passeando com o novo dono. Eu chorei de um lado e tu do
outro. No fim do dia tu já estava em casa de novo, junto comigo.
Minha única companhia quando chegava em casa tarde da
faculdade. Tu acordava com aquela cara amassada e os pelos marcados só pra
ficar do meu lado enquanto eu jantava, tomava banho e ia dormir. Aliás, dormir
era tua atividade favorita... Dormir com qualquer uma de nós, com a cabeça bem
apoiada na dobra das pernas.
Tu sempre aguentou as brincadeiras que fizemos contigo.
Sempre foi paciente e quando a coisa ficava demais ia se esconder de nós no teu
cantinho.
No Natal eu virei Papai Noel! |
Mais um tempinho passou e rapidamente a tua energia de
infância deu espaço a um velhote rabugento, cheio de manias e manhas. Mas o teu
jeito delicado de subir na cama não mudou. Era raro perceber de tão leve que
era teu pulo.
Pulos e pulos depois os sinais da tua idade foram aparecendo
cada vez mais. Aos poucos os pulos foram ficando mais raros, a palavra passear
já não te fazia mais ficar de orelhas em pé e as dores nas costas que insistiam
em aparecer te incomodavam.
Minha mãe parece a Felícia. Socorro!! |
Nessa última semana te trouxe comigo. Vi de perto teu
sofrimento e sofri junto contigo. Cuidei de ti mais uma vez, a última vez. Não
quis acreditar que não tinha mais jeito. Fui até onde deu. Nos últimos dias,
parece que eu conseguia ver lágrimas nos teus olhinhos castanhos. Resisti o
quanto pude, mas não conseguia mais te ver sofrendo, sem caminhar, sem
conseguir ser o cachorrinho sapeca e sem vergonha que tu sempre foi, aquele que
dava pulos altos e corria atrás dos gatos e da bolinha com uma energia
incrível. Desculpa.
Hoje o dia acordou chuvoso e cinza, assim como o meu coração.
É doloroso andar por aqui e não ouvir o barulho das tuas patinhas pelo chão ou
os teus choramingos pedindo um pouco de atenção. É péssimo olhar para os
lugares onde tu deitava e perceber que tu não está mais por aqui. Dá um aperto
no peito...
Para a eternidade... |
A única certeza que eu tenho é que tu foi um grande amigo e
companheiro de quatro patas e que me ensinou muitas coisas nesses 15 anos,
mesmo sem uma palavra.
Lamento e vou lamentar sempre não ter passado mais tempo
contigo, não ter te dado mais atenção e carinho.
Obrigada meu amigo. Vai com Deus e fica cuidando de nós de
onde quer que tu estejas.
Ah... E se der, aparece em um dos meus sonhos qualquer noite dessas pra gente brincar de novo.
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