Uma folha em branco é quase como um recomeço. Uma
oportunidade pra fazer tudo de novo, reescrever corrigindo os erros,
melhorando, buscando sinônimos para palavras repetidas...
Eu gostava mais daquele tempo quando as palavras eram
riscadas e rabiscadas, às vezes apagadas pela borracha que deixava suas marcas
no papel, denunciando a sua tentativa de passar despercebida.
Sempre gostei de escrever à mão e à caneta, que é pra não
ter chance de apagar um texto pelo simples fato de ter medo do que os outros
vão pensar ou por achar que aquilo está muito piegas, muito sentimental, muito
bobo.
Sou do tempo em que a gente escrevia muito. Tive diário,
vários deles, muitos mesmo... Até hoje estão guardados cuidando das palavras
que escrevi, muitas vezes contando problemas adolescentes, infantis até... Escrevia
cartas para os familiares que moravam em outra cidade, contava as coisas que
aconteciam comigo e adorava a expectativa, algumas vezes frustradas, de receber
a resposta, abrir aquele envelope cheirando à cola, com selo e tudo. Ai, ai...
Por mais que a gente tente não se render à praticidade da
tecnologia, é quase impossível resistir. Ela veio pra ficar, pra ajudar a
tornar tudo mais rápido, mais instantâneo. Mas isso traz também a
contrapartida, as coisas ficam mais efêmeras, passageiras, sem importância.
Lembra do tempo das fotografias de filme, quando
precisávamos esperar até ver o resultado dos cliques? Depois de esperar tanto
tempo, a gente nem se importava com fotografias meio fora de foco, tremidas,
com uma pose ruim ou uma careta imperfeita. Hoje, é só celular, mil selfies na
mesma pose até achar aquela fotografia perfeita que vai retratar um momento
inesquecível que você não está vivendo porque encontra-se muito ocupado tirando
fotos.
Eu, como boa fã do papel e da caneta, continuo escrevendo e
reescrevendo as coisas. Começando e recomeçando a cada folha em branco que me
aparece no caminho. Me pego pensando para onde estamos indo com essa pressa
toda, onde vamos chegar... Será que não é bom reservar um pouquinho do nosso
tempo pra desacelerar?
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