Detesto admitir meus erros, mas dizem que esse é um dos
caminhos para acertar, então...
Muitas vezes eu não vejo as pessoas invisíveis... Essa frase
pode parecer ridícula num primeiro momento, mas vou tentar explicar.
Pra começar, vamos definir quem são as pessoas invisíveis.
São aquelas que andam maltrapilhas pelas ruas da cidade, muitas vezes sem rumo,
pedindo dinheiro, comida ou o que quer que a sua caridade possa dar. São
pessoas que não tiveram oportunidades ou que as tiveram mas não conseguiram
aproveitar da melhor maneira. Aos poucos, elas vestem o manto da
invisibilidade. A sociedade passa a (fingir) não enxergá-las.
Me deparei com esse assunto dias atrás, quando estacionamos
o carro em frente ao prédio que moro e percebemos à frente um homem, já
conhecido nas redondezas por ficar vagando dia e noite, atirado no chão. Mais
atrás vinha um grupo com dois casais que deviam ter entre 50 e 60 anos. Quando
as duas mulheres avistaram o homem atirado no caminho, atravessaram na mesma
hora. Nos olhos elas carregavam desprezo e medo.
Descemos do carro e não mudamos o nosso trajeto por causa do
homem. Lucas, que sempre conversa com ele e dá algumas moedas embora eu sempre
diga que ele vai gastar tudo em drogas e bebidas, parou e perguntou o que tinha
acontecido ao homem estirado no chão. Quando vi os olhos dele, completamente
vidrados, e ouvi ele dizer que aquilo estava machucando ele, senti um misto de
pena, tristeza, impotência e uma vontade louca de chorar e abraçar aquele
homem.
Mas o sentimento que mais doeu em mim e sou obrigada a
reconhecer isso, foi a vergonha. Quantas vezes eu tive medo dele? Quantas vezes
eu passei por uma pessoa em situação semelhante e fingi que não via? Quantas
vezes eu ignorei o mendigo que pede esmola no sinal? Quantas vezes o medo, o
nojo, o desprezo e a pena estavam nos meus olhos? Quantas vezes pensei em
ajudar e não fiz isso? Quantas vezes eu podia ter estendido a mão e não o fiz?
Eu sei que a violência existe e não é pouca. Mas será que se
a gente parar para ajudar, dar a mão, uma palavra que seja, essa pessoa não vai
se dar conta que não somos indiferentes? Será?
O homem levantou com as moedas de Lucas nas mãos e saiu
caminhando.
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